TERMÔMETRO DA COP30 #DIA 12: fogo na Blue Zone, o bloco do travamento e a espera pelo rascunho

  • 21/11/2025
(Foto: Reprodução)
Olá, aqui quem escreve é Roberto Peixoto, repórter de Meio Ambiente no g1. Este é o Termômetro da COP30, edição #DIA 12, um boletim com o essencial que você precisa saber sobre a 30ª Conferência do Clima da ONU. Eu vou explicar para você, em 7 tópicos, como foi a quinta-feira em Belém. Entre os destaques, eu conto, claro, do incêndio no Pavilhão dos Países que paralisou a Blue Zone e suspendeu toda a programação do dia. Vou falar também por que as expectativas para o rascunho do mutirão diminuíram ao longo do dia, diante do risco de o texto sair sem qualquer referência ao roteiro para deixar os combustíveis fósseis. E ainda explico como a resistência de um grupo de países virou um dos principais nós desta COP. 1 - Em alta X em baixa EM ALTA: Antes do incêndio parar a COP30, o secretário-geral da ONU, António Guterres, colocou o tema da adaptação no centro das atenções. Pela primeira vez, ele apoiou abertamente a ideia de triplicar o financiamento para adaptação até 2030, chegando a US$ 120 bilhões. É exatamente o que os países mais pobres vinham pedindo há meses. Hoje, o mundo entrega só US$ 26 bilhões, quando precisaria de pelo menos 12 vezes mais para 2035. "Apelo fortemente a todas as delegações para mostrar vontade e flexibilidade para transmitir resultados que protejam as pessoas e mantenham o limite de 1,5ºC", disse Guterres. EM BAIXA: ⛽As expectativas para o novo rascunho do mutirão diminuíram. A versão que o Brasil prepara pode sair sem nenhuma referência ao roteiro para deixar os combustíveis fósseis, mesmo após o pedido firme de cerca de 80 países. A resistência continua forte e o próprio presidente da COP já reconheceu isso publicamente. Enquanto isso, Colômbia, União Europeia e Reino Unido ainda tentam garantir que algum tipo de caminho para a transição apareça no texto. Se a proposta vier mesmo esvaziada, a pressão por mudanças deve crescer nas próximas horas. O debate está longe de acabar. "Não é admissível que um pequeno grupo de países bloqueie o que já é a vontade da maioria. Como lembrou António Guterres, estamos perigosamente perto de perder até mesmo o limite de 2°C. Sem essa reviravolta, corremos o risco de entregar ao mundo uma COP incapaz de fazer o básico", diz Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, sobre as dificuldades para emplacar o Mapa do Caminho para Longe dos Combustíveis Fósseis na Decisão do Mutirão. (Entenda mais sobre essa resistência no item 3.) 2 - Brisa de esperança: o salto climático do México A nossa brisa de hoje vem da América do Norte e de um país que resolveu dar um passo que muita gente grande ainda evita. O México apresentou na COP30 a sua nova NDC, e o plano está sendo chamado, por organizações como Oxfam e WRI, de um dos compromissos mais ambiciosos já feitos por um grande emissor nesta rodada global. O que mudou? Bastante coisa. Pela primeira vez, o país colocou um teto absoluto de emissões para 2035, cobrindo todos os gases e todos os setores da economia. O ponto central está na meta de emissões. O México quer chegar a 364 a 404 MtCO₂e até 2035. Mas o que isso significa na prática? MtCO₂e é a sigla usada para medir “toneladas de carbono equivalente”, uma forma de juntar todos os gases de efeito estufa numa mesma conta. Hoje, o México emite algo perto de 820 MtCO₂e por ano. Ou seja: cortar para a casa dos 360–400 significa reduzir pela metade o que o país colocaria na atmosfera se continuasse no ritmo atual. E tem mais: se receber apoio internacional, o México promete ir ainda mais longe, chegando a 332–363 MtCO₂e, o que equivale a evitar centenas de milhões de toneladas de gases numa década decisiva. E o plano não é só número. A nova NDC inclui, pela primeira vez, um capítulo de perdas e danos, reforça metas de renováveis, atualiza padrões de transporte e coloca gênero, direitos humanos e trabalho de cuidado no centro da estratégia climática. Claro, agora vem a parte difícil: transformar ambição em política pública, investimento e implementação. Mas, num ano em que tantos países empurram metas para frente, o México decidiu subir a régua. Vista aérea mostra a Cidade do México tomada por uma forte névoa de poluição, em imagem de 2010. Wikimedia/Domínio Público 3 - Traduz aí, g1 O QUE SÃO OS LMDC? Os LMDC são os Like-Minded Developing Countries, um bloco de países em desenvolvimento que costuma atuar de forma coordenada nas negociações climáticas. Fazem parte do grupo países como China, Índia, Arábia Saudita, Argélia, Bangladesh, Egito, Indonésia, Irã, Malásia, Paquistão, Filipinas, Sri Lanka, Sudão, Síria, Vietnã e Cuba. Eles defendem, de maneira geral, três pontos centrais: que países ricos assumam a maior parte do esforço de cortes de emissões; que o financiamento climático seja ampliado e cumpra as obrigações já previstas no Acordo de Paris; que países em desenvolvimento mantenham autonomia sobre o ritmo de sua transição energética. Na prática, isso significa que o grupo costuma resistir a textos que mencionem eliminação dos combustíveis fósseis ou que imponham metas iguais para todos. Como o sistema da COP funciona por consenso, uma objeção do LMDC já é suficiente para travar parágrafos inteiros de um rascunho. Nessa COP, o grupo está travando qualquer referência ao roteiro para deixar os combustíveis fósseis: o mapa do caminho. Em resumo: quando você ouvir que um texto da COP “emperrou”, muitas vezes é porque o LMDC decidiu que ainda não é hora de avançar. 4 - Pergunta do dia: como funciona uma Blue Zone? A Blue Zone é, basicamente, o “coração” de uma COP. É nesse espaço que acontecem as negociações oficiais entre os países, as reuniões fechadas, as plenárias e boa parte dos anúncios diplomáticos que definem o rumo da política climática global. Durante a conferência, a área é administrada pela ONU e funciona como território da organização, mas sempre dentro da soberania do país anfitrião, como ficou claro no incêndio de ontem, quando o comando passou imediatamente às autoridades brasileiras. Como funcionam as negociações na COP Dentro da Blue Zone, tudo funciona com credencial. Delegados, negociadores, pesquisadores, ONGs e imprensa circulam por um labirinto de pavilhões nacionais e salas onde grupos se encontram a portas fechadas. Mas por que ela se chama Blue Zone? Bom, a explicação é menos mística do que parece: vem do azul da própria ONU. Desde 1945, essa é a cor oficial da organização, escolhida para simbolizar paz e diplomacia, e acabou sendo usada para batizar o espaço onde as conversas formais acontecem. Quer mandar uma pergunta pro TERMÔMETRO? Envie pelo VC no g1 ou nos comentários desta reportagem 5 - Fóssil do Dia Manifestantes anunciam o “Fóssil do Dia” para o Brasil durante a COP23, em Bonn, na Alemanha, em 16 de novembro de 2017. Na época, o país foi criticado por propor subsídios bilionários à exploração de petróleo na camada do pré-sal. John Englart A Climate Action Network não entregou o Fóssil do Dia nesta quinta-feira por causa da paralisação da Blue Zone após o incêndio no Pavilhão dos Países. Com a área fechada e toda a programação suspensa, a cerimônia foi cancelada. Mas vale lembrar quem já levou o “troféu” simbólico ao longo da semana. Qual gás do efeito estufa é o maior vilão do clima? Na quarta, a União Europeia levou o prêmio por travar avanços em financiamento para países vulneráveis e resistir a metas mais claras de adaptação. A Arábia Saudita recebeu uma menção desonrosa por tentar esvaziar referências à ciência e a direitos humanos. Na terça, o Fóssil foi para o Canadá, acusado de desmontar políticas climáticas recentes, apoiar novos projetos fósseis e evitar compromissos de financiamento pós-2026. E na segunda, a Nova Zelândia recebeu o prêmio após reduzir sua meta de corte de metano justamente durante as discussões globais sobre o gás. 🦖 O "Fóssil do dia" é um "prêmio" simbólico e irônico, concedido uma vez por dia durante as conferências climáticas da ONU. 6 - Você precisa assistir 'Praga laranja': estátua de Donald Trump é colocada na entrada da Zona Azul da COP30 Uma escultura que retrata Donald Trump como o “Deus da Injustiça” foi colocada na entrada da Blue Zone da COP30. No vídeo acima, a repórter Bárbara Carvalho, da GloboNews, comenta que a obra acaba chamando bastante a atenção de quem chega para o evento: delegados param, observam os detalhes e tentam entender a crítica feita pelo artista dinamarquês Jens Galschiøt. A peça mostra Trump sentado nos ombros de um homem magro e visivelmente sobrecarregado. Ele segura uma balança em uma das mãos e apoia a outra em um taco de golfe, uma referência a um dos hobbies mais conhecidos do americano. Bárbara também mostra miniaturas em 3D que estão sendo distribuídas ali perto, versões pequenas da própria escultura do presidente, que não enviou uma delegação a Belém. O movimento já era esperado. No começo do ano, Trump anunciou a saída dos EUA do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas. Em seu 1º mandato, ele também já tinha retirado o país do acordo, alegando que o mecanismo prejudicava a economia americana e beneficiava outros países às custas dos Estados Unidos. Entenda o que é o Acordo de Paris 7 - Além da imagem Pessoas usam extintores para tentar conter um incêndio no Pavilhão dos Países, na Blue Zone da COP30, em Belém, nesta quinta-feira (20). Douglas Pingituro/Reuters MAIS DO QUE UMA FOTO: Um incêndio atingiu o Pavilhão dos Países na Blue Zone da COP30 no início da tarde desta última quinta. A cena acima, captada pelo fotógrafo Douglas Pingituro da agência Reuters, mostra equipes de segurança e participantes no momento em que a fumaça tomou conta do corredor principal, antes de a área ser evacuada. A organização da COP e a ONU afirmaram que as chamas foram contidas em cerca de seis minutos e que mais de 20 pessoas precisaram de atendimento médico. A evacuação levou à paralisação total dos trabalhos ontem, interrompendo discussões que já vinham sob pressão em um dos dias mais delicados do cronograma. Saiba mais sobre como o incêndio foi controlado clicando aqui Amanhã, acompanhe mais um TERMÔMETRO DA COP30. Até lá! LEIA TAMBÉM: Preços de hospedagem caem quase 50% em Belém às vésperas da COP 30, aponta Airbnb Cúpula de Belém surpreende ao trazer de volta o petróleo para o foco das negociações da COP Tornado, ciclone, furacão: entenda as diferenças entre os fenômenos meteorológicos

FONTE: https://g1.globo.com/meio-ambiente/cop-30/noticia/2025/11/21/termometro-da-cop30-dia-12-fogo-na-blue-zone-o-bloco-do-travamento-e-a-espera-pelo-rascunho.ghtml


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